by Antônio Carlos Kantuta

domingo, 12 de agosto de 2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Le bonheur


"Le bonheur est dans l'oeil de celui qui regarde"
(Mahatma Gandhi)

STF aprova por unanimidade a constitucionalidade do sistema de cotas


De São Paulo

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quinta-feira por unanimidade que o sistema de cotas raciais em universidades é constitucional. O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, iniciou seu voto --o último dos ministros-- por volta das 19h30, antecipando que acompanha o voto do relator Ricardo Lewandowski.
O julgamento, que terminou por volta das 20h, tratou de uma ação proposta pelo DEM contra o sistema de cotas da UnB (Universidade de Brasília), que reserva 20% das vagas para autodeclarados negros e pardos.
Ayres Britto disse durante o voto que os erros de uma geração podem ser revistos pela geração seguinte e é isto que está sendo feito.
Em um voto de quase duas horas, o ministro Ricardo Lewandowski afirmou ontem (25) que o sistema de cotas em universidades cria um tratamento desigual com o objetivo de promover, no futuro, a igualdade.
Para ele, a UnB cumpre os requisitos, pois definiu, em 2004, quando o sistema foi implantado, que ele seria revisto em dez anos. "A política de ação afirmativa deve durar o tempo necessário para corrigir as distorções."
Luiz Fux foi o segundo voto a favor das cotas raciais. Segundo Fux, não se trata de discriminação reservar algumas vagas para determinado grupo de pessoas. "É uma classificação racial benigna, que não se compara com a discriminação, pois visa fins sociais louváveis", disse.
A ministra Rosa Weber também seguiu o voto do relator. Para ela, o sistema de cotas visa dar aos negros o acesso à universidade brasileira e, assim, equilibrar as oportunidades sociais.
O quarto voto favorável foi da Ministra Cármen Lúcia, que citou duas histórias pessoais sobre marcas deixadas pela desigualdade na infância.
Em seu voto, o ministro Joaquim Barbosa citou julgamento da Suprema Corte americana que validou o sistema de cotas para negros nos Estados Unidos, ao dizer que o principal argumento que levou àquela decisão foi o seguinte: "Os EUA eram e continuam a ser um país líder no mundo livre, mas seria insustentável manter-se como livre, mantendo uma situação interna como aquela".
Peluso criticou argumentos de que a reserva de vagas fere o princípio da meritocracia. "O mérito é sim um critério justo, mas é justo apenas em relação aos candidatos que tiveram oportunidades idênticas ou pelos menos assemelhadas", disse. "O que as pessoas são e o que elas fazem dependem das oportunidades e das experiências que ela teve para se constituir como pessoa."
O ministro Gilmar Mendes também votou pela constitucionalidade das cotas em universidades, mas fez críticas ao modelo adotado pela UnB. Ele argumentou que tal sistema, que reserva 20% das vagas para autodeclarados negros e pardos, pode gerar "distorções e perversões".
Celso de Mello disse, durante seu voto, que ações afirmativas estão em conformidade com Constituição e com Declarações Internacionais subscritas pelo Brasil.
Marco Aurélio Mello também seguiu o relator e votou pela constitucionalidade do sistema de cotas. Dias Toffoli não participou do julgamento por ter dado um parecer no processo quando era da Advocacia-Geral da União. 

Fonte: Folha.com

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Neo-Chanchada e a Demência Cultural

Deborah Secco em Bruna Surfistinha (2011).
Por André Setaro

Para a infelicidade geral daqueles que torcem pelo cinema brasileiro, um novo filão se espraia, como verdadeira metástase, pelo mercado exibidor. É a "neo-chanchada" também conhecida como "globochanchada". Trata-se de filmes produzidos pela Globo, com elenco da casa, e dotados de uma estética televisiva, humor supérfluo, grosseiro, situações esdrúxulas e sem a menor espirituosidade, e dos quais se tem a impressão de se estar vendo, na tela do cinema, televisão. A estética desses filmes entra em choque com a verdadeira estética cinematográfica. E o pior é que os filmes que se classificam nesse filão fazem sucesso e obtêm boa bilheteria. Para ficar em alguns exemplos: "De Pernas Pro Ar", de Ricardo Santucci, uma mixórdia inqualificável, com Ingrid Guimarães e elenco global; "O Homem do Futuro", de Cláudio Torres, com um irreconhecível Wagner Moura num filme totalmente destituído de poder de convencimento; "Cilada.Com", de Bruno Mazzeo (filho de Chico Anysio, bom comediante, mas que nunca deveria ter se atrevido a dirigir um filme), "Muito Gelo e Dois Dedo D'água", besteirol de Daniel Filho, que se entusiasmou com o fenômeno dos dois "Se Eu Fosse Você" e se encontra fazendo um filme atrás do outro. Este "Muito Gelo..." agride não somente o cinema como também a inteligência do cinéfilo. Entre muitos outros.
O crítico da Folha de S. Paulo, Inácio Araújo, cunhou uma expressão que se aplica como uma luva a tais filmes: a poética da insignificância. Insignificantes, as ditas "neo-chanchadas" desmoralizam quem as assina como diretor, porque, inclusive, como bem disse o citado crítico, um filme como "De Pernas Pro Ar" torna qualquer chanchada da Atlântida dos anos 40 e 50 uma, por assim dizer, "Pietà". A história do cinema brasileiro, aliás, teve o seu apogeu quando das chanchadas produzidas pela Atlântida nos anos 40 e 50, que deram celebridade a comediantes como Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade, Ankito, Ronald Golias, entre outros. Detestadas pela maioria dos críticos, as chanchadas do pretérito se tornaram, agora, objetos de dissertações e teses na pós-graduação. O tempo, realmente, é o melhor crítico. E das chanchadas, que desapareceram na agitada década de 60 com o advento do Cinema Novo, o cinema nacional, nos anos de chumbo da ditadura, descobriu a "pornochanchada", comédias de costumes com alusões sexuais. Para se ter uma ideia da insignificância das atuais 'neo-chanchadas', a pior 'pornochanchada' de décadas atrás é melhor do que qualquer uma dessas 'neo-chanchadas'. Havia, nelas, mesmo nas piores, um certo 'non chalance', um tom escrachado, bem diferente das atuais.
As 'neo-chanchadas', assim como o BBB (Big Brother Brasil), evidenciam a mentalidade do público brasileiro, rasteira, e não deixam de se constituir num registro sociológico da demência instituída na sociedade contemporânea.

Texto extraído do JF - Jornal da FACOM, Faculdade de Comunicação/UFBA.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Red Lipstick...

Anne Hathway
"Porque as flores têm luz própria..."

Tempo


no início era o começo.
o depois veio vindo devagar.
o antes veio depois do depois.
só quando esse se estabeleceu.
no princípio era o agora.
isso demorou até que
tudo virou antes e depois.
então uma revolução peluda
o agora voltou ao trono.
antes e depois viraram
falta do que fazer.
e tanto fizeram
que o agora virou tudo
e o tudo, nada.
de volta ao princípio
o agora congelou.
o antes fica pra depois.

Tempo, Chacal.

Brasil: Desigual Welfare State


Fonte: Rádio ONU 
A universalização do acesso é tributária de certa noção de igualdade, em que defende o acesso de todos aos bens e serviços produzidos na sociedade. Está presente no lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) e nas promessas dos socialistas utópicos. Ainda que teóricos questionem a igualdade formal, estabelecida na superestrutura jurídico-política de diversos países, após a revolução burguesa, as possibilidades de a luta política dos sujeitos defenderem a igualdade real propiciaram ganhos para as classes subalternas por meio de reformas. Sistemas de proteção social de caráter universal ou políticas públicas universais, a exemplo da saúde e da educação, desenvolveram-se nas sociedades capitalistas a partir da emergência do chamado estado de bem estar social, especialmente nos anos 1950 e 1960. Em contraste, o Brasil adotou um modelo de “estado desenvolvimentista”, que permitiu a ampliação de benefícios e serviços por intermédio da previdência social. Neste modelo, o Brasil estrutura-se historicamente de forma não universalista, no sentido da concessão de direitos não à totalidade da sociedade, mas a grupos sociais escolhidos, como forma de incorporar certas frações das camadas populares à arena política. Trouxe como conseqüência uma desigualdade sócio territorial estrutural no acesso aos serviços, que se agrava nos anos 1990, com a política de ajuste econômico e reforma do já precário estado de bem estar social.
(...)

Fonte: Brasil. (2011). Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB (Proposta de Plano). Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, Brasília.

O Automóvel: O Vetor da Insustentabilidade...



O automóvel é o fator urbano de maior impacto no aquecimento global, idem na qualidade do ar nas cidades, induz a ocupação espraiada do solo, é um dos maiores responsáveis pela impermeabilização do solo (causa principal de enchentes), atua como oposição ao transporte coletivo de massa, ao pedestre e à mobilidade baseada em veículos não motorizados, além de ser uma das maiores causas de mortes ou incapacitação para o trabalho devido ao número de acidentes que em 2005 totalizaram 35.753 óbitos e 123.061 internações a um custo de R$ 118 milhões para o Brasil (SUS – Ministério da Saúde).


Ermínia Maricato, documentário Sociedade, Energia, Meio Ambiente. Teses para debate. SENGE, CREA-BA, Fisenge, Mutua.



quarta-feira, 28 de março de 2012

A Lua e a Mulher


O Nascimento de Vênus (1879), de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905).
Adam Smith: Que afinidades especiais lhe pareceram existir entre a lua e a mulher?
Ulisses: Sua antiguidade em preceder e sobreviver a sucessivas gerações telúricas: sua predominância noturna: sua dependência satélica: seu reflexo luminar: sua constância sob todas as suas fases, erguendo-se e pondo-se em suas horas indicadas, ficando cheia e sumindo: a invariabilidade forçada de seu aspecto: sua resposta indeterminada à interrogação inafirmativa: sua força sobre as águas afluentes e refluentes: seu poder de enamorar, mortificar, investir com beleza, tornar insano, incitar e auxiliar a delinqüência: a inescrutabilidade tranqüila de seu rosto: a terribilidade de sua isolada dominante implacável resplendente propinqüidade: seus presságios de tempestade e de calmaria: a estimulação de sua luz, seu movimento e sua presença: a advertência de suas crateras, de seus mares áridos, de seu silêncio: seu esplendor, quando visível: sua atração, quando invisível.

Texto extraído de Ulisses, James Joyce. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Hoje Não Escrevo...

Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.
O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você esperando que os outros vivam para depois comentá-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego - às vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa aberta, sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.
Ah, você participa com palavras? Sua escrita - por hipótese - transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever O Capital é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu O Capital. Não é todos os dias que se mete uma idéia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação.
Claro, você aprovou as valentes ações dos outros, sem se dar ao incômodo de praticá-las. Desaprovou as ações nefandas, e dispensou-se de corrigir-lhe os efeitos. Assim é fácil manter a consciência limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na ação, que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no carretel.
E então vem o tédio. De Senhor dos Assuntos, passar a espectador enfastiado de espetáculo. Tantos fatos simultâneos e entrechocantes, o absurdo promovido a regra de jogo, excesso de vibração, dificuldade em abranger a cena com o simples par de olhos e uma fatigada atenção. Tudo se repete na linha do imprevisto, pois ao imprevisto sucede outro, num mecanismo de monotonia... explosiva.
Na hora ingrata de escrever, como optar entre as variedades de insólito? E que dizer, que não seja invalidado pelo acontecimento de logo mais, ou de agora mesmo? Que sentir ou ruminar, se não nos concedem tempo para isso entre dois acontecimentos que desabam como meteoritos sobre a mesa? Nem sequer você pode lamentar-se pela incomodidade profissional. Não é redator de boletim político, não é comentarista internacional, colunista especializado, não precisa esgotar os temas, ver mais longe do que o comum, manter-se afiado como a boa peixeira pernambucana. Você é o marginal ameno, sem responsabilidade na instrução ou orientação do público, não há razão para aborrecer-se com os fatos e a leve obrigação de confeitá-los ou temperá-los à sua maneira. Que é isso, rapaz. Entretanto, aí está você, casmurro e indisposto para a tarefa de encher o papel de sinaizinhos pretos. Concluiu que não há assunto, quer dizer: que não há para você, porque ao assunto deve corresponder certo número de sinaizinhos, e você não sabe ir além disso, não corta de verdade a barriga da vida, não revolve os intestinos da vida, fica em sua cadeira, assuntando, assuntando...
Então hoje não tem crônica.

Hoje Não Escrevo, in O Poder Ultrajovem, Carlos Drummond de Andrade, 1972.